Fonte: Alegoria da Caverna de Platão - Alex Gendler VoiceOver Pt Edu Cunha
Vamos estudar a "Alegoria da Caverna de Platão".
Este texto platônico é comumente chamado de "Mito da Caverna", prefiro a expressão "Alegoria da Caverna", que foi escrito pelo próprio filósofo Platão, um dos mais importantes pensadores da história da Filosofia.
Platão utilizava do método dialético, essa alegoria revela a relação estabelecida pelos conceitos de escuridão e ignorância, luz e conhecimento, e vários outro que analisaremos.
Foi escrito em forma de diálogo e pode ser lido no livro VII da obra A República.
Para entendermos melhor seria interessante conhecer um pouco da etimologia da palavra "alegoria";
A Alegoria (do grego "allegoría" e latim allegorĭa - que significa “dizer o outro”) é um conceito filosófico e uma figura de retórica, utilizada em diversas artes (pintura, escultura, arquitetura, música, etc.) que significa literalmente, o ato de falar sobre outra coisa.
A alegoria é um recurso literário que se baseia no significado oculto das palavras. Desta forma, uma narração com uma mensagem aparente esconde uma mensagem paralela diferente. Normalmente, as histórias alegóricas contam histórias simples sobre indivíduos e animais, mas no fundo se trata de uma reflexão sobre ideias abstratas.
Para muitos estudiosos, a alegoria representa uma metáfora ampliada e, em alguns casos, é semelhante à personificação ou prosopopeia. Segundo os retóricos da antiguidade, a alegoria é diferente da metáfora na medida que ela é utilizada de forma mais aberta e ampla (numa fábula, parábola, romance, poema), enquanto a metáfora considera os elementos que compõem o texto de maneira independente.
Nesse sentido, a alegoria pode abrigar diversos significados que transcendem seu sentido literal (denotativo, real), de modo que ela utiliza símbolos para representar uma coisa ou uma ideia através da aparência de outra. Em outras palavras, a alegoria representa a linguagem figurativa, para descrever algo (pessoa, objeto, etc.) com a imagem de outro.
Esse termo já era discutido desde a antiguidade e até os dias de hoje, é possível encontrar alegorias na arte. Sendo muito utilizada nas narrativas mitológicas, com o intuito de explicar a vida humana e as forças da natureza, para os gregos, ela significava um modo interessante de interpretação da vida.
Por meio das alegorias era portanto possível, transcender os limites ao desvendar mistérios bem como auxiliar na construção de novas ideais e paradigmas que permaneciam subtendidas. Muitos textos religiosos, a fim de revelarem a verdade oculta, utilizam interpretações alegóricas (alegoria teológica), por exemplo, a Bíblia.
O termo é também utilizado para descrever o conjunto de elementos alegóricos das escolas de samba durante o carnaval. Durante a festa, os carros alegóricos desenvolvem e constroem a arte que será apresentada por meio de uma temática elegida.
De tal modo, quando falamos em alegoria é comum utilizarmos como exemplo, a “Alegoria da Caverna”, escrito pelo filósofo grego, Platão. Esse texto utiliza da alegoria donde os elementos representados seriam utilizados para revelar a ignorância humana. Assim, na caverna os homens viveriam na ignorância e quando saem dela, transcendem esse processo, revelado pela verdade, pelo real.
Fonte: https://www.todamateria.com.br/alegoria/ e https://conceitos.com/alegoria/
Vamos agora ao texto original:
Texto: A alegoria da caverna – A República (514a-517c)
Sócrates: Agora imagine a nossa natureza, segundo o grau de
educação que ela recebeu ou não, de acordo com o quadro que vou
fazer. Imagine, pois, homens que vivem em uma morada subterrânea
em forma de caverna. A entrada se abre para a luz em toda a largura
da fachada. Os homens estão no interior desde a infância,
acorrentados pelas pernas e pelo pescoço, de modo que não podem
mudar de lugar nem voltar a cabeça para ver algo que não esteja
diante deles. A luz lhes vem de um fogo que queima por trás deles, ao
longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo, há um caminho que
sobe. Imagine que esse caminho é cortado por um pequeno muro,
semelhante ao tapume que os exibidores de marionetes dispõem entre
eles e o público, acima do qual manobram as marionetes e
apresentam o espetáculo.
Glauco: Entendo
Sócrates: Então, ao longo desse pequeno muro, imagine homens que
carregam todo o tipo de objetos fabricados, ultrapassando a altura do
muro; estátuas de homens, figuras de animais, de pedra, madeira ou
qualquer outro material. Provavelmente, entre os carregadores que
desfilam ao longo do muro, alguns falam, outros se calam.
Glauco: Estranha descrição e estranhos prisioneiros!
Sócrates: Eles são semelhantes a nós. Primeiro, você pensa que, na
situação deles, eles tenham visto algo mais do que as sombras de si
mesmos e dos vizinhos que o fogo projeta na parede da caverna à sua
frente?
Glauco: Como isso seria possível, se durante toda a vida eles estão
condenados a ficar com a cabeça imóvel?
Sócrates: Não acontece o mesmo com os objetos que desfilam?
Glauco: É claro.
Sócrates: Então, se eles pudessem conversar, não acha que,
nomeando as sombras que vêem, pensariam nomear seres reais?
Glauco: Evidentemente.
Sócrates: E se, além disso, houvesse um eco vindo da parede diante
deles, quando um dos que passam ao longo do pequeno muro falasse,
não acha que eles tomariam essa voz pela da sombra que desfila à
sua frente?
Glauco: Sim, por Zeus.
Sócrates: Assim sendo, os homens que estão nessas condições não
poderiam considerar nada como verdadeiro, a não ser as sombras dos
objetos fabricados.
Glauco: Não poderia ser de outra forma.
Sócrates: Veja agora o que aconteceria se eles fossem libertados de
suas correntes e curados de sua desrazão. Tudo não aconteceria
naturalmente como vou dizer? Se um desses homens fosse solto,
forçado subitamente a levantar-se, a virar a cabeça, a andar, a olhar
para o lado da luz, todos esses movimentos o fariam sofrer; ele ficaria
ofuscado e não poderia distinguir os objetos, dos quais via apenas as
sombras anteriormente. Na sua opinião, o que ele poderia responder
se lhe dissessem que, antes, ele só via coisas sem consistência, que
agora ele está mais perto da realidade, voltado para objetos mais
reais, e que está vendo melhor? O que ele responderia se lhe
designassem cada um dos objetos que desfilam, obrigando-o com
perguntas, a dizer o que são? Não acha que ele ficaria embaraçado e
que as sombras que ele via antes lhe pareceriam mais verdadeiras do
que os objetos que lhe mostram agora?
Glauco: Certamente, elas lhe pareceriam mais verdadeiras.
Sócrates: E se o forçassem a olhar para a própria luz, não achas que
os olhos lhe doeriam, que ele viraria as costas e voltaria para as
coisas que pode olhar e que as consideraria verdadeiramente mais
nítidas do que as coisas que lhe mostram?
Glauco: Sem dúvida alguma.
Sócrates: E se o tirarem de lá à força, se o fizessem subir o íngreme
caminho montanhoso, se não o largassem até arrastá-lo para a luz do
sol, ele não sofreria e se irritaria ao ser assim empurrado para fora? E,
chegando à luz, com os olhos ofuscados pelo brilho, não seria capaz
de ver nenhum desses objetos, que nós afirmamos agora serem
verdadeiros.
Glauco: Ele não poderá vê-los, pelo menos nos primeiros momentos.
Sócrates: É preciso que ele se habitue, para que possa ver as coisas
do alto. Primeiro, ele distinguirá mais facilmente as sombras, depois,
as imagens dos homens e dos outros objetos refletidas na água,
depois os próprios objetos. Em segundo lugar, durante a noite, ele
poderá contemplar as constelações e o próprio céu, e voltar o olhar para a luz dos astros e da lua mais facilmente que durante o dia para o sol e para a luz do sol.
Glauco: Sem dúvida.
Sócrates: Finalmente, ele poderá contemplar o sol, não o seu reflexo nas águas ou em outra superfície lisa, mas o próprio sol, no lugar do sol, o sol tal como é.
Glauco: Certamente.
Sócrates: Depois disso, poderá raciocinar a respeito do sol, concluir que é ele que produz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível, e que é, de algum modo a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna.
Glauco: É indubitável que ele chegará a essa conclusão.
Sócrates: Nesse momento, se ele se lembrar de sua primeira morada, da ciência que ali se possuía e de seus antigos companheiros, não acha que ficaria feliz com a mudança e teria pena deles?
Glauco: Claro que sim.
Sócrates: Quanto às honras e louvores que eles se atribuíam mutuamente outrora, quanto às recompensas concedidas àquele que fosse dotado de uma visão mais aguda para discernir a passagem das sombras na parede e de uma memória mais fiel para se lembrar com exatidão daquelas que precedem certas outras ou que lhes sucedem, as que vêm juntas, e que, por isso mesmo, era o mais hábil para conjeturar a que viria depois, acha que nosso homem teria inveja dele, que as honras e a confiança assim adquiridas entre os companheiros lhe dariam inveja? Ele não pensaria antes, como o herói de Homero, que mais vale “viver como escravo de um lavrador” e suportar qualquer provação do que voltar à visão ilusória da caverna e viver como se vive lá?
Glauco: Concordo com você. Ele aceitaria qualquer provação para não viver como se vive lá.
Sócrates: Reflita ainda nisto: suponha que esse homem volte à caverna e retome o seu antigo lugar. Desta vez, não seria pelas trevas que ele teria os olhos ofuscados, ao vir diretamente do sol?
Glauco: Naturalmente.
Sócrates: E se ele tivesse que emitir de novo um juízo sobre as sombras e entrar em competição com os prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda está confusa, seus olhos ainda não se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo curto demais para acostumar-se com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os prisioneiros não diriam que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que não vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços, fazê-los subir, você acredita que, se pudessem agarrá-lo e executá-lo, não o matariam?
Glauco: Sem dúvida alguma, eles o matariam.
Sócrates: E agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar exatamente essa alegoria ao que dissemos anteriormente. Devemos assimilar o mundo que apreendemos pela vista à estada na prisão, a luz do fogo que ilumina a caverna à ação do sol. Quanto à subida e à contemplação do que há no alto, considera que se trata da ascensão da alma até o lugar inteligível, e não te enganarás sobre minha esperança, já que desejas conhecê-la. Deus sabe se há alguma possibilidade de que ela seja fundada sobre a verdade. Em todo o caso eis o que me aparece tal como me aparece; nos últimos limites do mundo inteligível aparece-me a idéia do Bem, que se percebe com dificuldade, mas que não se pode ver sem concluir que ela é a causa de tudo o que há de reto e de belo. No mundo visível, ela gera a luz e o senhor da luz, no mundo inteligível ela própria é a soberana que dispensa a verdade e a inteligência. Acrescento que é preciso vê-la se quer comportar-se com sabedoria, seja na vida privada, seja na vida pública.
Glauco: Tanto quanto sou capaz de compreender-te, concordo contigo.
Referência:
A Alegoria da caverna: A Republica, 514a-517c tradução de Lucy
Magalhães.
In: MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia: dos Présocráticos a Wittgenstein. 2a
ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2000.
Após a leitura do texto vamos ver os seguintes vídeos para ajudar na compreensão deste importante texto filosófico.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=0vBDiHWu6h8
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=3wL_OMpBjlI
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=ZBAyHVlzRV0
Fonte: http://turmadamonica.uol.com.br/assombrasdavida/
Questões para debate:
1) É possível conhecer a realidade como ela se apresenta? Comente. (+ ou - 08 linhas).
2) Qual o significado da palavra "alegoria"? (+ ou - 4 linhas)
3) Comente sobre os instrumentos para o conhecimento: os cinco sentidos e a razão (+ ou - 10 linhas);
4) Relacione a mensagem do texto "Alegoria da Caverna" com uma situação do mundo atual (+ ou - 6 linhas).
5) Qual o objeto do conhecimento: o mundo material ou a realidade eterna?
6) Qual tipo de atitude devemos ter em relação à educação: passiva ou crítica?
Bons estudos! Prof.: Alberto Ribeiro - Filosofia
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