Por Adeir Ferreira, e
Moisés Ferreira
Bacharel e Licenciado em Filosofia-ISTA/PUC-MG.
Especialista em Psicologia da Educação-PUC-MG.
Especialista em Psicologia da Educação-PUC-MG.
Professor de
Filosofia da Secretaria de educação do Estado de
São Paulo.
Em resposta ao
convite do meu nobre amigo filósofo e irmão, Adeir Ferreira, estou aqui a partilhar um pouco da
minha angústia, fruto do atual momento na qual estamos vivendo.
Como professor efetivo do Estado de São Paulo, é meu dever enquanto filósofo perguntar, buscar uma resposta e provocar a outros a trilhar este
caminho da indagação. Tenho
sentido e também experimentado
em sala de aula, no convívio com colegas
de profissão e nos nossos meios de comunicação, principalmente nas redes sociais, uma pobreza de
espírito acompanhada por uma preguiça intelectual que angustia. A sensação que tenho é que estamos
todos embriagados por uma bebida chamada covardia. A covardia de se esconder atrás de uma ideia, de um sentimento de medo. Medo de não aceitar pontos de vistas diferentes e reconhecer
quando estamos equivocados e buscar aprender com o outro. Eis a nova forma de
ditadura, a panoptista.
Em nossa atual
relação sociolinguística há uma guerra de interesses acerca dos fatos(facticidade),
e não mais acerca da verdade(veracidade). No entanto, a
regra do jogo estabelecida por quem possui poder midiático, político e econômico reduz a verdade a informações. As pessoas, consumidoras de informações em excesso, apenas recebem passivamente o conteúdo. A passividade automatizada de receber e repassar
informações dá a sensação psicológica ao indivíduo de poderio. É estranha a
luta que está sendo travada
entre aqueles que supostamente são os corretos e
aqueles que são os culpados
por todos os males sociopolíticos que nos
assola.
Nunca foram tão difíceis os
procedimentos filosóficos na sala
de operação racional. Antigamente, um raso professor de
filosofia conseguia argumentar racionalmente e mostrar aos outros as estruturas
do pensamento e as condições do diálogo: as falhas, os erros, os equívocos, o conteúdo, o objetivo etc. Mas, a atual conjuntura impõe ao filósofo outro
trabalho, o de emendar os rasgões existenciais
dos egóicos espíritos, feridos
na guerra pelo poder de auto exibição. Tomara que a infante filosofia clínica não se enverede por este caminho. O antigo sujeito
epistemológico verga para outro tipo de sujeito, o ego. É por isso que um filósofo não consegue mais
realizar um trabalho racional, porque a capacidade racional, sobretudo a da massa
está a muito tempo inoperante. Resta, portanto, nessas
mentes literalmente vazias e corações cheios (egos inflados), os dogmas, a vaidade, as crenças, os valores. Por meio de caminhos existenciais e psicológicos nunca se quis
tanto “conseguir a paz de forma violenta” (Racionais Mcs, Diário de um detento). Esse novo fenômeno burguês também é apontado por Marilena Chauí.
Existe outro
ponto de vista que respeito, mas não comungo dele,
é o de demonizar a política por culpa de homens políticos irresponsáveis e também covardes.
Esta prática de generalização tem levado muita gente equivocadamente a achar que política é de âmbito apenas particular, que não devemos debatê-la, somente
trocar opiniões, informações e narrar fatos. Outros ainda têm a audácia de dizer
que política é coisa de
idiota, mal sabem eles que, idiotas são justamente
aqueles que não participam da
política (conforme Bertold Brecht, O analfabeto político). Pois, naturalmente, como diziam os gregos,
somos animais políticos (Aristóteles).
Dentre todas
estas inquietações – aparentemente existenciais –, residem os interesses dos dominadores, daqueles que
desejam que tudo continue como está, como por
exemplo, o povo se digladiando nos faces da vida, não se interessando pelas coisas publicas enquanto os
dominadores aumentam o seu poder de dominação. Dentre estes dominadores, lembro-me a figura
do nosso nobre governador, Geraldo Alckmin-PSDB, pertencente a um partido que está já a 20 anos na
administração do Estado de São Paulo. Uma
figura que é descaradamente
protegida pelos meios de comunicação. Não o conheço pessoalmente,
não sei como é o seu caráter, mas o que fica na minha impressão filosófica é que seu projeto de administração é, saciar as
vontades dos que dominam os grandes meios de produção, e marginalizar aqueles que não tem acesso a este poder.
Não precisamos ir longe para constatar esse argumento. Hoje
mesmo, no jornal do SBT desta manhã (10/12/2015) a
âncora do telejornal, ao noticiar a ação do movimento social de alunos em que é contrário ao
fechamento de escolas públicas em São Paulo, disse que a ação violenta dos estudantes a levava a se questionar: “como é que esses alunos
que se comportam desse jeito na rua vão se comportar
ou aprender algo nas salas de aula”? Já na matéria seguinte,
mostrou um jovem médico agredido e
roubado por jovens em São Paulo, devido
a uma pequena colisão entre o carro
do médico e a bicicleta de um dos agressores. O médico saia de uma festa clandestina de universitários na USP. Por que a âncora não demonizou a
festa clandestina, na qual mostrou nas imagens bebidas alcóolicas em um espaço público, acadêmico e sério? Se fosse uma festinha de estudantes de escola pública da periferia o foco era outro. Por que alunos de
escola pública do ensino básico são expurgados das escolas por quererem estudar? E por
que jovens universitários não recebem o mesmo tratamento por sempre fazerem das
universidades espaços das suas
farras, regadas a álcool?
Um dos grandes
alvos desta marginalização midiática e política são os professores e os alunos. É de se pensar: por que justamente esta instituição escolar é tão maltratada? Este não é um lugar da construção do conhecimento, da busca pela novidade, do diálogo democrático, do exercício da liberdade, assim como a USP e a Unicamp? Sim. Mas
a diferença é que a escola básica é para pensantes
pobres. Bem, historicamente sabemos que ditadores não gostam de pessoas bem instruídas, pessoas pensantes. Gostam menos ainda de
pensantes que “vivem à custas do estado”. Ou seja, o
poder público funciona para ricos.
Para terminar,
vou deixar como provocação, o pensar em âmbito nacional. Se o país está realmente em
crise como todos alardeiam, por que não unir ideias
na busca de uma solução que venha nos
salvar desta catástrofe? Até mesmo a proposta de falaciosa solução neoburguesa, como por exemplo, o impeachment a Dilma
é uma violência descabida.
E deixo também uma sugestão, leia, releia, busque não somente informações e fatos, não seja Maria-vai-com as outras. Discorde, sugira,
traga críticas construtivas.
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