(LF-2015) Será o fim?

quarta-feira, 15 de julho de 2015



Chegadas e partidas: O que deve ficar e o que deve sair após a era petista?

Por Adeir Ferreira


Imagem: portaldoresdecampos



Chegadas e partidas é o título de um filme dramático, dirigido por Lasse Hallström (2001), cujo teor incide em narrar a trama existencial de um jornalista por ocasião, Quoyle, interpretado por Kevin Spacey, numa cidade pesqueira do interior. Tanto as chegadas quanto as partidas se referem aos deslocamentos físicos, às mortes, às memórias e às identidades. O interesse de Quoyle em descobrir suas origens na terra natal dos seus pais era espantoso. Seu medo de água, seu trauma paternal, sua submissão aos outros eram obstáculos à sua liberdade. Suas descobertas lhe revelaram que os enigmas do presente são criações dos monstros do passado. Nesse sentido, conhecer o passado monstruoso para Quoyle se tornou um caminho fundamental para a libertação existencial de suas heranças malditas, que antes ele as julgava normal, natural e até mesmo louvável. No entanto, o que ele não sabia era que os Quoyles eram saqueadores, piratas e ladrões dos mares.

Escondidas do cenário popular e do senso comum as instituições judiciárias, legislativas e a mídia nuclear anunciam o prelúdio do fim da prematura era petista. A despeito de um presente batizado midiaticamente de escandaloso, corrupto e caótico, o Partido dos Trabalhadores regressa à sua caserna sindical. Regressa também ao seu poderio popular de base. Poder o qual talvez não devesse ter cindido. Regressa igualmente à sua causa com mais certeza de representar – numericamente – a população brasileira, mas sabe também que ideologicamente não representa os interesses das instituições formais da política, da elite e da mídia. Em que sentido as origens sombrias de Quoyle se referem às origens políticas do Brasil?

O PT é um dos filhos mais novos da política. Um filho torto, por que é de esquerda. Para conhecer a “essência política” o PT precisou ir à cidade natal do poder. Descobriu que para sobreviver era preciso saber nadar, ou seja, saber fazer o jogo tradicional. No entanto, diferentemente da tradição política, o partido novo não se maculou como pregam seus rivais. O pai de Quoyle o tratava como fracassado, porque ele não herdou a habilidade náutica da sua linhagem. O PT descobre que conhecer e exercer o poder não seriam o suficiente para resolver os enigmas do presente. Pois, no fundo existem os monstros marinhos, muitas cunhas e al-cunhas, muitos em-calheiros, infinitas serras, torrões e neves que levaram mais de quinhentos anos de Brasil para construir a cultura do fracasso, da desigualdade, da corrupção, da fraude, da sonegação, do proselitismo-neopentecostal, das regalias, do machismo, do racismo, da homofobia, do analfabetismo léxico-gramatical-e-filosófico, do narcotráfico, do monopólio midiático, e assim naturalizar o abuso e o autoritarismo político, policial, social.

Levando em consideração as descobertas que Quoyle fez para si mesmo lhe permitiu se resolver enquanto pessoa. No entanto, as descobertas que o PT fez de si próprio à custa de sua árdua experiência deve se converter em poder. Poder esse já ensinado por Nicolau Maquiavel em O príncipe, cuja difamação como fortuna converte-se em virtú. A permanência no poder requer um novo condicionamento cultural das massas em um ato grandioso. Quoyle precisou mostrar a todos que ele era um homem diferente dos seus antepassados. As pessoas comuns não conseguem perceber como o PT e a Dilma são martelados diariamente pela mídia, pelas redes sociais. E infundada e indiscriminadamente reverberam bordões alheios.

“Tudo é culpa do PT”. Dizem as más línguas. Tudo o quê? A salada envenenada entregue ao senso comum é rapidamente curtida, compartilhada, enviada e consumida, porque é enlatada pela mídia golpista. O boicote às conquistas sociais do PT e do governo Dilma para o Brasil são vulgarizadas. Até o ex-presidente Lula, reconhecido mundialmente pelos feitos no país são desprezados pela imprensa. A predileção operacional da Polícia Federal pelos petistas a mando do Poder Judiciário, das Comissões Parlamentares de Inquérito-CPIs e da mídia é absurda. A arbitrariedade, o autoritarismo, o partidarismo, a chantagem dos presidentes do Senado Federal e da Câmara de Deputados Federal, de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal de Contas da União são medievalescas. A arte de ligar fatos, boatos, insinuações, informações privilegiadas, achismos, vontades e caprichos dos descontentes ao PT é enorme. Em alguns casos chega a ser vexaminoso, como o exemplo do famoso radialista Carlos Alberto Sardenberg da CBN e da Globonews (na primeira semana se julho de 2015) disse que a culpa da crise financeira da Grécia é culpa da Dilma e do Lula: a fala de Sardenberg. O PT, a Dilma e os Executivos estaduais e municipais se desgastam diuturnamente para se explicar.

“Tudo isso acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos...” (Trecho da música de Zé Geraldo – Milho aos pombos). Pior do que ignorar tudo isso, como o sujeito que tranquilamente dá milho aos pombos é reproduzir os enlatados e embutidos da turma reacionária como se fossem verdades. Dogmas existem para serem quebrados pelas marteladas do ato racional. Porém, o melhor remédio é educar racionalmente as pessoas para que elas saibam julgar criteriosamente os fatos e as informações para descobrir a verdade, que por sua vez está sob o manto do nebuloso poder da alva-sacra-máscula-coronela história estruturante da política brasileira.




Questões para pesquisa e seminário.

Preparação

Filme Chegadas e Partidas.

Livro Iniciação à Filosofia – Capítulo 12.
Seleção de textos jornalísticos e informativos impressos.  Até 5 textos.





I
Com qual intuito o autor relaciona o filme Chegadas e Partidas ao Partido dos Trabalhadores?


II
De um modo geral podemos inferir do texto que há uma incógnita que gravita em torno do PT e sua história no poder, sobretudo, no Poder Executivo federal. Qual fato que o povo desconhece em relação à tradição da política brasileira?


III
Quais são os motivos que o autor evidencia como responsáveis pela produção de fatos e informações que favorecem interesses específicos? E quem são os produtores dessa informação?


IV
Recorte; resuma e analise uma situação atual do cenário político divulgada pelos grandes meios de comunicação em massa, envolvendo escândalos, desvios, corrupções, roubos, subornos e tráfico de drogas responsabilizando políticos e partidos. Em seguida compare com o presente texto e faça uma crítica concordando ou discordando.


V
O que é dogmatismo? (Ler capítulo 12 do livro didático Iniciação a Filosofia de Marilena Chauí).


VI
Qual a proposta de enfrentamento ao dogmatismo apresentado no texto pelo autor? Em que sentido essa proposta é eficaz?


VII
O que a escola deve fazer para quebrar os dogmatismos políticos?

VIII
O que a família deve fazer para promover a aquisição sadia das informações acerca dos fatos políticos?


IX
O que as religiões podem fazer para proporcionar aos seus fiéis um ensinamento religioso que esteja disposto a erradicar os condicionamentos morais, partidaristas, proselitistas, separatistas, conservadoristas, tão comuns a certas confissões cristãs no Brasil?

X
Elabore uma proposta de intervenção política na sociedade, cuja finalidade seja erradicar a ignorância política e racional no meio em que você vive. Critérios: pense em algo que seja possível executar; possua fundamento teórico-crítico; pense em meios, materiais, no tempo, no espaço e nas pessoas envolvidas.







 

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