Chegadas e partidas: O que deve ficar e o que deve sair após a era petista?
Por Adeir Ferreira
Imagem: portaldoresdecampos |
Chegadas
e partidas é o título de um filme dramático, dirigido por Lasse Hallström (2001), cujo teor incide em narrar a trama existencial de um jornalista por
ocasião, Quoyle, interpretado por Kevin Spacey, numa cidade pesqueira do
interior. Tanto as chegadas quanto as partidas se referem aos deslocamentos
físicos, às mortes, às memórias e às identidades. O interesse de Quoyle em
descobrir suas origens na terra natal dos seus pais era espantoso. Seu medo de
água, seu trauma paternal, sua submissão aos outros eram obstáculos à sua
liberdade. Suas descobertas lhe revelaram que os enigmas do presente são criações
dos monstros do passado. Nesse sentido, conhecer o passado monstruoso para
Quoyle se tornou um caminho fundamental para a libertação existencial de suas
heranças malditas, que antes ele as julgava normal, natural e até mesmo louvável.
No entanto, o que ele não sabia era que os Quoyles eram saqueadores, piratas e
ladrões dos mares.
Escondidas
do cenário popular e do senso comum as instituições judiciárias, legislativas e
a mídia nuclear anunciam o prelúdio do fim da prematura era petista. A despeito
de um presente batizado midiaticamente de escandaloso, corrupto e caótico, o
Partido dos Trabalhadores regressa à sua caserna sindical. Regressa também ao
seu poderio popular de base. Poder o qual talvez não devesse ter cindido.
Regressa igualmente à sua causa com mais certeza de representar – numericamente
– a população brasileira, mas sabe também que ideologicamente não representa os
interesses das instituições formais da política, da elite e da mídia. Em que
sentido as origens sombrias de Quoyle se referem às origens políticas do Brasil?
O
PT é um dos filhos mais novos da política. Um filho torto, por que é de esquerda. Para conhecer a “essência política”
o PT precisou ir à cidade natal do poder. Descobriu que para sobreviver era
preciso saber nadar, ou seja, saber fazer o jogo tradicional. No entanto, diferentemente da tradição
política, o partido novo não se maculou como pregam seus rivais. O pai de
Quoyle o tratava como fracassado, porque ele não herdou a habilidade náutica da
sua linhagem. O PT descobre que conhecer e exercer o poder não seriam o
suficiente para resolver os enigmas do presente. Pois, no fundo existem os
monstros marinhos, muitas cunhas e al-cunhas, muitos em-calheiros, infinitas serras, torrões
e neves que levaram mais de quinhentos anos de Brasil para construir a cultura
do fracasso, da desigualdade, da corrupção, da fraude, da sonegação, do
proselitismo-neopentecostal, das regalias, do machismo, do racismo, da homofobia,
do analfabetismo léxico-gramatical-e-filosófico, do narcotráfico, do monopólio midiático, e assim naturalizar o abuso e o
autoritarismo político, policial, social.
Levando
em consideração as descobertas que Quoyle fez para si mesmo lhe permitiu se
resolver enquanto pessoa. No entanto, as descobertas que o PT fez de si próprio
à custa de sua árdua experiência deve se converter em poder. Poder esse já
ensinado por Nicolau Maquiavel em O príncipe, cuja difamação como fortuna
converte-se em virtú. A permanência no poder requer um novo condicionamento
cultural das massas em um ato grandioso. Quoyle precisou mostrar a todos que ele era
um homem diferente dos seus antepassados. As pessoas comuns não conseguem perceber
como o PT e a Dilma são martelados diariamente pela mídia, pelas redes sociais. E infundada e indiscriminadamente reverberam bordões alheios.
“Tudo
é culpa do PT”. Dizem as más línguas. Tudo o quê? A salada envenenada entregue
ao senso comum é rapidamente curtida, compartilhada, enviada e consumida,
porque é enlatada pela mídia golpista. O boicote às conquistas sociais do PT e
do governo Dilma para o Brasil são vulgarizadas. Até o ex-presidente Lula,
reconhecido mundialmente pelos feitos no país são desprezados pela imprensa. A predileção
operacional da Polícia Federal pelos petistas a mando do Poder Judiciário, das
Comissões Parlamentares de Inquérito-CPIs e da mídia é absurda. A arbitrariedade,
o autoritarismo, o partidarismo, a chantagem dos presidentes do Senado Federal
e da Câmara de Deputados Federal, de alguns ministros do Supremo Tribunal
Federal e do Tribunal de Contas da União são medievalescas. A arte de ligar
fatos, boatos, insinuações, informações privilegiadas, achismos, vontades e
caprichos dos descontentes ao PT é enorme. Em alguns casos chega a ser
vexaminoso, como o exemplo do famoso radialista Carlos Alberto Sardenberg
da CBN e da Globonews (na primeira semana se julho de 2015) disse que a culpa da
crise financeira da Grécia é culpa da Dilma e do Lula: a fala de Sardenberg. O PT, a Dilma e
os Executivos estaduais e municipais se desgastam diuturnamente para se
explicar.
“Tudo
isso acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos...” (Trecho da
música de Zé Geraldo – Milho aos pombos). Pior do que ignorar tudo isso, como o
sujeito que tranquilamente dá milho aos pombos é reproduzir os enlatados e
embutidos da turma reacionária como se fossem verdades. Dogmas existem para
serem quebrados pelas marteladas do ato racional. Porém, o melhor remédio é educar
racionalmente as pessoas para que elas saibam julgar criteriosamente os fatos e
as informações para descobrir a verdade, que por sua vez está sob o manto do nebuloso
poder da alva-sacra-máscula-coronela história estruturante da política brasileira.
Questões para pesquisa e seminário.
Preparação
Filme Chegadas e
Partidas.
Livro Iniciação
à Filosofia – Capítulo 12.
Seleção de
textos jornalísticos e informativos impressos.
Até 5 textos.
I
Com qual intuito o autor relaciona o filme Chegadas e Partidas ao Partido dos Trabalhadores?
II
De um modo geral podemos inferir do texto que há uma incógnita que gravita em torno do PT e sua história no poder, sobretudo, no Poder Executivo federal. Qual fato que o povo desconhece em relação à tradição da política brasileira?
III
Quais são os motivos que o autor evidencia como responsáveis pela produção de fatos e informações que favorecem interesses específicos? E quem são os produtores dessa informação?
IV
Recorte; resuma e analise uma situação atual do cenário político divulgada pelos grandes meios de comunicação em massa, envolvendo escândalos, desvios, corrupções, roubos, subornos e tráfico de drogas responsabilizando políticos e partidos. Em seguida compare com o presente texto e faça uma crítica concordando ou discordando.
V
O que é dogmatismo? (Ler capítulo 12 do livro didático Iniciação a Filosofia de Marilena Chauí).
VI
Qual a proposta de enfrentamento ao dogmatismo apresentado no texto pelo autor? Em que sentido essa proposta é eficaz?
VII
O que a escola deve fazer para quebrar os dogmatismos políticos?
VIII
O que a família deve fazer para promover a aquisição sadia das informações acerca dos fatos políticos?
IX
O que as religiões podem fazer para proporcionar aos seus fiéis um ensinamento religioso que esteja disposto a erradicar os condicionamentos morais, partidaristas, proselitistas, separatistas, conservadoristas, tão comuns a certas confissões cristãs no Brasil?
X
Elabore uma proposta de intervenção política na sociedade, cuja finalidade seja erradicar a ignorância política e racional no meio em que você vive. Critérios: pense em algo que seja possível executar; possua fundamento teórico-crítico; pense em meios, materiais, no tempo, no espaço e nas pessoas envolvidas.
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