(LF-2015) Texto de Filosofia 2.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Como fazer filosofia após a superação da metafísica?

 Por Adeir Ferreira – Filosofia e Existência -II


           Longe da aplicabilidade dos postulados filosóficos de Nietzsche e Heidegger, cito um fato ocorrido entre eu e um aluno meu do 2º ano do ensino médio no ano letivo de 2013. Ele me procurou no intervalo e me disse: “professor, estou com uma dúvida muito grande entre estudar filosofia ou medicina. O senhor pode dizer-me como é a carreira de filósofo em termos de remuneração e as áreas de atuação?”
       Ao que eu respondi – sinto que suas preocupações acerca da realização pessoal secundariza o objetivo primário de qualquer profissão, pois a medicina, a filosofia, a administração ou o direito já possui um objetivo em si mesmo, de tal modo que, independentemente da área que você opte, já está dado o ofício a desempenhar.
Heidegger, ao citar a transcendência como uma forma de postura mediante o mundo (Essência do Fundamento, p. 95) diz que a transcendência renova a subjetividade do sujeito, dando-lhe condições de interpretar o mundo, dentro de sua ipseidade, evitando extremismos que possam ofuscar o ser ou o sujeito.
          A filosofia e também as demais ciências parecem ter sido colocadas num patamar de personificação do existir do sujeito no mundo, assim como na experiência que tive com o referido aluno. Assim como o ser foi entificado, a filosofia, a medicina, e as ciências como um todo, foram personificadas. Nesse sentido, Adorno e Horkheimer apontam a Indústria Cultural como esse fermento que incha o ego ao ponto de ele se colocar como prioridade na existência e em segundo plano a objetividade do mundo que acaba se extremisando ao ponto de servir como fundamento não do ser, mas do existir do sujeito: “para substituir as práticas localizadas do curandeiro pela técnica industrial foi preciso, primeiro, que os pensamentos se tornassem autônomos em face dos objetos, como ocorre no ego ajustado à realidade” (Adorno e Horkheimer, p. 22-23).
            Ou seja, o medo da perda do eu se tornou real, conforme Adorno e Horkheimer, “o eu integralmente capturado pela civilização se reduz a um elemento dessa inumanidade, à qual a civilização desde o início procurou escapar” (ibd.p. 37). A saída concreta para a autoafirmação de si é prioridade no mundo. A Indústria Cultural faz com que os meios de libertação do homem se tornem suas próprias armadilhas, tais como ciências, trabalho, técnica e cultura.
            Para Heidegger o filósofo é importante na busca do sentido do ser pelo fator do ato filosófico colocar a questão e iniciar a investigação acerca do sentido do ser. No entanto, como procurar o sentido do ser quando o ser do sujeito se confunde com ser-aí, com o ser das coisas e com o próprio mundo? Com certeza se deve aos extremismos.
            A resposta ainda não fora apontada, mas haverá de elucidar uma alternativa quando colocarmos o elemento deflagrador desse contexto em questão e não o abandonando como fazem os extremistas. De um modo geral, o que está em xeque é a guinada do antropocentrismo em detrimento do teocentrismo. O homem atribui para si uma dupla responsabilidade, a de dar sentido a si próprio e ao mundo.
            O verbo “dar” é postulado dado pela Indústria Cultural, o sentido não está em um lugar onde se possa encontrá-lo, ele é fabricado por outro sujeito igual a mim, no entanto, esse sentido também não é um sentido original do ser, é apenas um significado simbólico das relações econômicas, egóicas. Penso que, fazer filosofia nessas condições restringe a existencialidade a um caminho alternativo como o do Zaratustra nietzscheano.
             Nesse sentido, se isolar para se encontrar, se apartar do mundo para aí então classificar ente e ser como deve ser classificado e definido, compreender o existir do sujeito com o mundo, no mundo e sem o mundo e não se reduzindo a uma extremada posição que confunde o sentido do ser, não apenas com o ente, mas também com o sujeito.

Referências Bibliográficas:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

ADORNO, Thedor. e HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

HEIDEGGER, Martin. A essência do fundamento. Edição bilingue. Edições 70: Lisboa. (Biblioteca de Filosofia Contemporânea):

_________________. Ser e tempo. Tradução de Márcia Sá Cavalcante Schuback. Vozes: Petrópolis, 2006.
                                                                                                             
MARTON, Scarlett.  Extravagâncias: ensaios sobre a filosofia de Nietzsche. Discurso Editorial e Unijaí: São Paulo, 2001.



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