Teorias éticas da modernidade.
Por Adeir Ferreira
Arthur Schopenhauer
A ética para Schopenhauer se
configura como prática. É a partir deste pressuposto que se desencadeia toda a
sua filosofia. Nietzsche chegou a elogiar o pensamento schopenhauriano por se
colocar a favor da vida, sendo dessa forma menos teórico. Schopenhauer descreve
o mundo e suas mazelas para que possamos compreender a origem de todo os males.
A fonte de todos os males seria o egoísmo. Por isso Schopenhauer propõe a
compaixão como meio de pensar o outro e de pensar no outro.
Inspirado no budismo, a ética de
Schopenhauer calca seu conceito de verdade em um quesito mais humano que divino
(metafísico-ôntico), portanto, a intuição é a mola propulsora para o
conhecimento da verdade. Schopenhauer não exclui a razão do campo do saber, ele
apenas determina os momentos adequados em que ela deve ser empregada e os
momentos em que dela deve-se abster (O mundo como vontade e representação, p.
67-73).
A ética de Schopenhauer tem como
fundamento a compaixão, diz Reale e Antisseri (p. 233). Para ele devemos nos
compadecer com as dores do outro ao sentir nossas próprias dores. O caminho
para a fuga da dor do existir se dá por meio da ascese, da negação da vontade
egoísta de tirar vantagem em tudo. A ascese é o caminho da redenção e a da
libertação da dor e do egoísmo.
Emmanuel Lévinas
O pensamento ético de Lévinas está
associado a alteridade, ou seja, ao outro. Assim como em Schopenhauer, o outro
é pensado, no entanto, não como alvo de compaixão, Lévinas pensa o outro em
questões de preservação da identidade, o respeito e a responsabilidade.
Hutchens (Compreender Lévinas,
2007), estudioso de Lévinas, diz que o filósofo entende que: “somos dependentes
dos outros de maneiras das quais muitas vezes não estamos sequer conscientes,
precisamente porque tantas vezes pensamos sobre nós mesmos em termo dos
critérios avaliativos da racionalidade moderna” (Hutchens, p. 33). Por isso
somos responsáveis pelo outro. A ética de Lévinas é uma ética da
responsabilidade porque nascemos em um mundo permeado de relacionamentos
sociais (ibd. p. 35). A ética levinasiana aponta a responsabilidade em
exercício como ponte para a liberdade, pois a realidade do mundo e do outro são
fatos inegáveis.
Henrique Dussel
A ética de Dussel parece se
configurar com padrões mais sociais do que com os tradicionais conceitos
metafísicos. Dussel utiliza-se do marxismo para fundar sua compreensão de ética
no campo das relações sociais e em Lévinas para fundamentar a compreensão do
ser humano nas suas relações existenciais e interpessoais com o outro.
Na perspectiva de Dussel, em
decorrência da condição finita dos seres humanos, há desigualdade social e
marginalização, de tal modo que uma parcela da sociedade é excluída. O papel do
filósofo é incutir reflexões críticas ao sistema, a fim de, favorecer às
vítimas esclarecimentos da situação, e dessa forma se libertarem por si mesmas
das mazelas da negatividade social e existencial.
Referências Bibliográficas:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo:
Martins Fontes, 2003.
HUTCHENS, B. C. Compreender Lévinas. Tradução de Vera Lúcia Mello Joscelyne. Vozes:
Petrópolis, 2007.
LÉVINAS, Emmanuel. Humanismo
do outro homem. Tradução de Pergentino S. Pivato e col. Petrópolis: Vozes,
1993.
REALE,
Giovanni; ANTISSERI, Dario. História da
filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Paulus, 1990. Vol 3.
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Tradução de M. F. Sá
Correia. Rio de janeiro: Contraponto,
2001.
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